Compostagem dos resíduos orgânicos gerados em um laticínio

28/02/2025

Compostagem dos resíduos orgânicos gerados em um laticínio

 

A compostagem é definida pela Norma ABNT NBR 13591/1996 como sendo o processo de decomposição biológica dos resíduos orgânicos, realizado em condições aeróbias, por meio da ação de um conjunto diversificado de organismos (ABNT, 1996).

 A compostagem é caracterizada por ser uma ferramenta de baixo custo e tem como principal objetivo a conversão de resíduos orgânicos em um fertilizante orgânico rico em micro e macronutrientes.

 O fertilizante pode ser aplicado em pequenas quantidades diretamente no solo, como adubo, melhorando suas características físicas, químicas e biológicas. Também pode ser utilizado como substrato, acompanhado de outros componentes, para a produção de mudas ou plantio de qualquer espécie vegetal.

A experiencia tem como propósito principal promover a transformação de resíduos orgânicos em composto de qualidade, que pode ser utilizado para enriquecer o solo, além de reduzir a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários, contribuindo dessa forma pra a preservação ambiental e melhoria da sustentabilidade da empresa.

Tipo de Compostagem

O tipo de compostagem escolhida para implementar no Laticínios Buritis foi a compostagem seca, também conhecido como compostagem aeróbica. Uma técnica sustentável onde ocorre o processo de decomposição de matéria orgânica por meio de microrganismos, como bactérias e fungos, sem a necessidade de invertebrados.           

Relação Carbono/Nitrogênio

    No início do processo de compostagem, é recomendável que a relação C/N esteja entre 25:1 e 35:1, sendo inferior a 20:1 ao final do processo (BRASIL, 2017b; INÁCIO; MILLER, 2009).

Materiais Utilizados

Materiais Verde (Ricos em Nitrogênio)

Esses materiais ajudam a acelerar o processo de decomposição devido ao seu alto teor de nitrogênio:

A.      Restos de alimentos:

·         Cascas de frutas provenientes do refeitório.

B.      Grama cortada e folhas verdes:

·         Folhas de plantas verdes;

·         Restos de poda de árvores e grama. 

Materiais Marrons (Ricos em Carbono)

Esses materiais ajudam a equilibrar a compostagem, fornecendo a estrutura necessária e evitando que o composto fique muito úmido:

A.      Folhas secas:

·         Folhas de árvores secas (de diversas espécies).

B.      Ramos e galhos triturados:

·         Galhos secos e triturados (para maior eficiência).

 C.      Serragem:

·         Serragem provenientes do processo de defumação do queijo provolone.

Além desses materiais, será introduzido também na composteira a borra de café e o lodo da ETE. Quando a borra de café passa pelo processo da compostagem torna-se um ótimo adubo orgânico. Conforme o Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE) de Araraquara, a borra de café é um material nobre e rico em nutrientes, com ótimas propriedades químicas para o solo por conter boa concentração de nitrogênio (26%) e carbono orgânico (48%). Já o lodo da ETE, conforme análise físico-química realizada pelo Laticínios Buritis, possui 55,2% de carbono orgânico total.

Espaço e Infraestrutura

O local onde a compostagem ficará será coberto ou sombreado (a depender da estação do ano), para que o composto fique protegido da chuva e do sol.

 Para a estrutura da composteira, será utilizado uma caixa de madeira com aberturas nas laterais e nos fundos, com dimensões (1,5x0,90x1,0) e 8 metros de tela de viveiro para cobrir seu interior.

Essa caixa é ideal para a compostagem seca, pois facilita a aeração do material, essencial para a atividade dos microrganismos decompositores.

Coleta dos Materiais e Preparação

     Separação de materiais secos ricos em carbono, como folhas secas e materiais ricos em nitrogênio, como cascas de frutas do refeitório, para equilibrar a relação carbono-nitrogênio. Esse equilíbrio é crucial para garantir uma decomposição eficiente.

     O material será disposto em camadas na composteira. A primeira camada será composta por folhas secas, seguida por cascas de frutas, lodo da ETE e borra de café. Essas camadas serão intercaladas até atingir certa altura.

Fases da Compostagem 

As fases da compostagem estão relacionadas à temperatura que é resultado da atividade biológica.

Fase mesofílica de aquecimento

   A primeira fase, conhecida como mesofílica de aquecimento, tem duração de poucos dias e conta com a predominância de bactérias que começam a se multiplicar no resíduo a ser compostado. Estas bactérias começam a degradar primeiro os resíduos menos recalcitrantes, ou seja, os compostos mais facilmente decomponíveis. A temperatura nesta fase da decomposição é de 30 a 45° C.

     Com o aumento da temperatura, as bactérias mesófilas (que sobrevivem em temperaturas mais baixas) perdem competitividade, dando espaço para proliferação de organismos termofílicos.

Fase termofílica

     Então começa a fase termofílica, quando a atividade metabólica cresce consideravelmente e, consequentemente, a temperatura também, podendo chegar até a 75°C. A duração desta fase varia de acordo com o tipo de material que está sendo compostado.

     Com o rápido consumo dos compostos orgânicos facilmente decomponíveis, há uma alta liberação de ácidos orgânicos pelas bactérias, levando a uma redução do pH.

     Com a redução do pH há uma sucessão ecológica. O pH fica ácido e fica “pouco confortável” para atuação das bactérias, havendo uma sucessão para maior atuação dos fungos que atuam em faixas de pH mais baixos.

Fase mesofílica de resfriamento

     Depois chega-se à etapa mesofílica de resfriamento. Nesta fase, a atividade metabólica diminui e a temperatura começa a cair, fazendo com que os organismos mesofílicos voltem a se instalar. Neste momento, inicia-se o processo de maturação da matéria orgânica e humificação.

Fase de resfriamento e maturação

     Enfim, chega-se à última etapa que é a etapa de resfriamento e maturação. Ela ocorre na temperatura ambiente. E nela, os organismos que prosperam são os mesofílicos entre eles os fungos e os actinomicetos. Nesta fase, os resíduos que vão estar ainda para serem decompostos vão ser recalcitrantes. Esses organismos continuam decompondo a celulose e a lignina chegando à etapa de mineralização que é a etapa final da decomposição. Neste momento, finalmente, o composto já apresenta propriedades físicas, químicas e biológicas desejáveis à aplicação no solo (KIEHL, 2004; MASSUKADO, 2008; INACIO et al., 2009 apud DAL BOSCO et al., 2017). 

Aeração e Controle de Temperatura

  O oxigênio é fundamental para que o processo de compostagem ocorra de forma satisfatória, pois sua presença é vital para os micro-organismos que realizam a decomposição dos resíduos orgânicos. Se não houver oxigênio suficiente, a decomposição será mais lenta e produzirá odores desagradáveis. Além disso, por meio de ciclos de reviramento, a aeração é responsável por dissipar as altas temperaturas ao longo do processo de compostagem.

Teor de Umidade

O teor de umidade é um dos parâmetros responsáveis por garantir a condição aeróbica da compostagem. O teor recomendado para operação da composteira é de 55% (FEAM, 2002).

Teores maiores que 65% irão tornar o processo anaeróbio, pois os poros do material decomposto serão ocupados por água (SOARES et al., 2017; FEAM, 2002). Por outro lado, o teor de umidade abaixo de 40% pode inibir a atividade microbiológica, diminuindo a capacidade de degradação da matéria orgânica (PIRES, 2013; BIDONE; POVINELLI, 1999; PEREIRA, 1996).

Benefícios Esperados

·      Ambientais: A compostagem reduz a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários, diminui as emissões de metano e ajuda a melhorar a saúde do solo.

Com base no quantitativo dos materiais colocados em 15 dias na composteira (tabela 02), é possível obter uma estimativa mensal de aproximadamente 500 kg de resíduos orgânicos, que serão transformados em adubo orgânico. 

 Tabela 02:

Material (15 dias)

Quantidade (kg)

Casca de banana

100,00

Casca de laranja

15,00

Borra de café

50,00

Grama

40,00

Folhas secas

20,00

Lodo seco ETE

25,00

TOTAL

250,00

Fonte: do autor

·      Econômicos: Oferece uma alternativa de adubo orgânico, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos. 

·      Sociais: Engajamento dos colaboradores na prática de sustentabilidade, incentivo ao consumo consciente e a reciclagem. 

Sustentabilidade

A implementação da compostagem na indústria de laticínios já demonstra um grande potencial para a redução dos impactos ambientais gerados pelo descarte de resíduos orgânicos. Ao buscar uma solução sustentável para a gestão desses materiais, a iniciativa reforça o compromisso da empresa com práticas mais responsáveis e alinhadas às diretrizes ambientais.

As etapas iniciais do projeto permitiram identificar desafios e oportunidades para a otimização do processo. A adequação da infraestrutura, a capacitação dos colaboradores e a definição dos melhores parâmetros para a decomposição dos resíduos são aspectos fundamentais que vêm sendo trabalhados para garantir a eficiência do sistema. Além disso, a avaliação contínua dos resultados será essencial para aprimorar a técnica e maximizar os benefícios da compostagem.

Foram observados vários benefícios significativos, como a redução do volume de resíduos enviados para aterros, a diminuição das emissões de gases de efeito estufa e a geração de um composto orgânico de qualidade para uso interno ou externo. O projeto também representa um avanço na adoção de práticas de economia circular, contribuindo para a sustentabilidade da indústria de laticínios.

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