Compostagem dos resíduos orgânicos gerados em um laticínio
A compostagem é definida pela Norma ABNT NBR 13591/1996 como sendo o processo de decomposição biológica dos resíduos orgânicos, realizado em condições aeróbias, por meio da ação de um conjunto diversificado de organismos (ABNT, 1996).
A compostagem é caracterizada por ser uma ferramenta de baixo custo e tem como principal objetivo a conversão de resíduos orgânicos em um fertilizante orgânico rico em micro e macronutrientes.
O fertilizante pode ser aplicado em pequenas quantidades diretamente no solo, como adubo, melhorando suas características físicas, químicas e biológicas. Também pode ser utilizado como substrato, acompanhado de outros componentes, para a produção de mudas ou plantio de qualquer espécie vegetal.
A experiencia tem como propósito principal promover a transformação de resíduos orgânicos em composto de qualidade, que pode ser utilizado para enriquecer o solo, além de reduzir a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários, contribuindo dessa forma pra a preservação ambiental e melhoria da sustentabilidade da empresa.
Tipo de Compostagem
O tipo de compostagem escolhida para implementar no Laticínios Buritis foi a compostagem seca, também conhecido como compostagem aeróbica. Uma técnica sustentável onde ocorre o processo de decomposição de matéria orgânica por meio de microrganismos, como bactérias e fungos, sem a necessidade de invertebrados.
Relação Carbono/Nitrogênio
No início do processo de compostagem, é recomendável que a relação C/N esteja entre 25:1 e 35:1, sendo inferior a 20:1 ao final do processo (BRASIL, 2017b; INÁCIO; MILLER, 2009).
Materiais Utilizados
Materiais Verde (Ricos em Nitrogênio)
Esses materiais ajudam a acelerar o processo de decomposição devido ao seu alto teor de nitrogênio:
A. Restos de alimentos:
· Cascas de frutas provenientes do refeitório.
B. Grama cortada e folhas verdes:
· Folhas de plantas verdes;
· Restos de poda de árvores e grama.
Materiais Marrons (Ricos em Carbono)
Esses materiais ajudam a equilibrar a compostagem, fornecendo a estrutura necessária e evitando que o composto fique muito úmido:
A. Folhas secas:
· Folhas de árvores secas (de diversas espécies).
B. Ramos e galhos triturados:
· Galhos secos e triturados (para maior eficiência).
C. Serragem:
· Serragem provenientes do processo de defumação do queijo provolone.
Além desses materiais, será introduzido também na composteira a borra de café e o lodo da ETE. Quando a borra de café passa pelo processo da compostagem torna-se um ótimo adubo orgânico. Conforme o Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE) de Araraquara, a borra de café é um material nobre e rico em nutrientes, com ótimas propriedades químicas para o solo por conter boa concentração de nitrogênio (26%) e carbono orgânico (48%). Já o lodo da ETE, conforme análise físico-química realizada pelo Laticínios Buritis, possui 55,2% de carbono orgânico total.
Espaço e Infraestrutura
O local onde a compostagem ficará será coberto ou sombreado (a depender da estação do ano), para que o composto fique protegido da chuva e do sol.
Para a estrutura da composteira, será utilizado uma caixa de madeira com aberturas nas laterais e nos fundos, com dimensões (1,5x0,90x1,0) e 8 metros de tela de viveiro para cobrir seu interior.
Essa caixa é ideal para a compostagem seca, pois facilita a aeração do material, essencial para a atividade dos microrganismos decompositores.
Coleta dos Materiais e Preparação
Separação de materiais secos ricos em carbono, como folhas secas e materiais ricos em nitrogênio, como cascas de frutas do refeitório, para equilibrar a relação carbono-nitrogênio. Esse equilíbrio é crucial para garantir uma decomposição eficiente.
O material será disposto em camadas na composteira. A primeira camada será composta por folhas secas, seguida por cascas de frutas, lodo da ETE e borra de café. Essas camadas serão intercaladas até atingir certa altura.
Fases da Compostagem
As fases da compostagem estão relacionadas à temperatura que é resultado da atividade biológica.
Fase mesofílica de aquecimento
A primeira fase, conhecida como mesofílica de aquecimento, tem duração de poucos dias e conta com a predominância de bactérias que começam a se multiplicar no resíduo a ser compostado. Estas bactérias começam a degradar primeiro os resíduos menos recalcitrantes, ou seja, os compostos mais facilmente decomponíveis. A temperatura nesta fase da decomposição é de 30 a 45° C.
Com o aumento da temperatura, as bactérias mesófilas (que sobrevivem em temperaturas mais baixas) perdem competitividade, dando espaço para proliferação de organismos termofílicos.
Fase termofílica
Então começa a fase termofílica, quando a atividade metabólica cresce consideravelmente e, consequentemente, a temperatura também, podendo chegar até a 75°C. A duração desta fase varia de acordo com o tipo de material que está sendo compostado.
Com o rápido consumo dos compostos orgânicos facilmente decomponíveis, há uma alta liberação de ácidos orgânicos pelas bactérias, levando a uma redução do pH.
Com a redução do pH há uma sucessão ecológica. O pH fica ácido e fica “pouco confortável” para atuação das bactérias, havendo uma sucessão para maior atuação dos fungos que atuam em faixas de pH mais baixos.
Fase mesofílica de resfriamento
Depois chega-se à etapa mesofílica de resfriamento. Nesta fase, a atividade metabólica diminui e a temperatura começa a cair, fazendo com que os organismos mesofílicos voltem a se instalar. Neste momento, inicia-se o processo de maturação da matéria orgânica e humificação.
Fase de resfriamento e maturação
Enfim, chega-se à última etapa que é a etapa de resfriamento e maturação. Ela ocorre na temperatura ambiente. E nela, os organismos que prosperam são os mesofílicos entre eles os fungos e os actinomicetos. Nesta fase, os resíduos que vão estar ainda para serem decompostos vão ser recalcitrantes. Esses organismos continuam decompondo a celulose e a lignina chegando à etapa de mineralização que é a etapa final da decomposição. Neste momento, finalmente, o composto já apresenta propriedades físicas, químicas e biológicas desejáveis à aplicação no solo (KIEHL, 2004; MASSUKADO, 2008; INACIO et al., 2009 apud DAL BOSCO et al., 2017).
Aeração e Controle de Temperatura
O oxigênio é fundamental para que o processo de compostagem ocorra de forma satisfatória, pois sua presença é vital para os micro-organismos que realizam a decomposição dos resíduos orgânicos. Se não houver oxigênio suficiente, a decomposição será mais lenta e produzirá odores desagradáveis. Além disso, por meio de ciclos de reviramento, a aeração é responsável por dissipar as altas temperaturas ao longo do processo de compostagem.
Teor de Umidade
O teor de umidade é um dos parâmetros responsáveis por garantir a condição aeróbica da compostagem. O teor recomendado para operação da composteira é de 55% (FEAM, 2002).
Teores maiores que 65% irão tornar o processo anaeróbio, pois os poros do material decomposto serão ocupados por água (SOARES et al., 2017; FEAM, 2002). Por outro lado, o teor de umidade abaixo de 40% pode inibir a atividade microbiológica, diminuindo a capacidade de degradação da matéria orgânica (PIRES, 2013; BIDONE; POVINELLI, 1999; PEREIRA, 1996).
Benefícios Esperados
· Ambientais: A compostagem reduz a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários, diminui as emissões de metano e ajuda a melhorar a saúde do solo.
Com base no quantitativo dos materiais colocados em 15 dias na composteira (tabela 02), é possível obter uma estimativa mensal de aproximadamente 500 kg de resíduos orgânicos, que serão transformados em adubo orgânico.
Tabela 02:
Material (15 dias) | Quantidade (kg) |
Casca de banana | 100,00 |
Casca de laranja | 15,00 |
Borra de café | 50,00 |
Grama | 40,00 |
Folhas secas | 20,00 |
Lodo seco ETE | 25,00 |
TOTAL | 250,00 |
Fonte: do autor
· Econômicos: Oferece uma alternativa de adubo orgânico, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos.
· Sociais: Engajamento dos colaboradores na prática de sustentabilidade, incentivo ao consumo consciente e a reciclagem.
Sustentabilidade
A implementação da compostagem na indústria de laticínios já demonstra um grande potencial para a redução dos impactos ambientais gerados pelo descarte de resíduos orgânicos. Ao buscar uma solução sustentável para a gestão desses materiais, a iniciativa reforça o compromisso da empresa com práticas mais responsáveis e alinhadas às diretrizes ambientais.
As etapas iniciais do projeto permitiram identificar desafios e oportunidades para a otimização do processo. A adequação da infraestrutura, a capacitação dos colaboradores e a definição dos melhores parâmetros para a decomposição dos resíduos são aspectos fundamentais que vêm sendo trabalhados para garantir a eficiência do sistema. Além disso, a avaliação contínua dos resultados será essencial para aprimorar a técnica e maximizar os benefícios da compostagem.
Foram observados vários benefícios significativos, como a redução do volume de resíduos enviados para aterros, a diminuição das emissões de gases de efeito estufa e a geração de um composto orgânico de qualidade para uso interno ou externo. O projeto também representa um avanço na adoção de práticas de economia circular, contribuindo para a sustentabilidade da indústria de laticínios.